terça-feira, 6 de março de 2012

É bonito dizer que estuda Nagwa Fouad



Já fiz alguns workshops e assisti shows por vários lugares do país com bailarinas muito conhecidas e reconhecidas pelo nosso pequenino mundo da Dança do Ventre no Brasil.

Não podemos esquecer que apesar de todo “glamour” que a fama na dança do ventre parece oferecer, não passa de uma ilusão! Pois ninguém mais, além das tietes bellydancers, sabem que “tal” diva exista e que o que ela faz é ARTE e que emociona, cativa, transcende.

Então, voltando aos workshops, nunca fui em um no qual não foi citado o nome de Nagwa Fouad (dentre outras bailarinas egípcias da era Gold), como uma das principais referências da Dança Egipcia, e é! No entanto, para o meu desgosto, não vejo sequer traços do que seria um movimento, uma sequencia, um “ar” da grande estrela durante as horas de aula.

Seu nome é citado em vão! No finalzinho da aula, como aquelas referências bibliográficas feitas para encher linguiça nos trabalhos de escola enquanto na verdade você apenas copiou o conteúdo do Wikipédia.
É para se pensar: Porque eu estudo as bailarinas egípcias antigas? Isso se realmente estuda e não fala apenas por falar. Vou citar apenas 2 objetivos:

1.        Porque considero importante compreender e não ficar na ignorância de não nunca saber sobre a história da dança do ventre como um todo. Aquela história: Conhecer o passado, para agir no presente e prever o futuro. Ou seja, apenas como um valor histórico (o que não é pouco).

2.       Porque as bailarinas da Gold Age realmente eram muito boas, verdadeiras estrelas. Elas sabiam dançar com maestria, técnicas apuradas de movimentos, leitura musical, interpretação, presença de palco, personalidade e por aí vai. Ou seja, tudo que uma bailarina sonha em ser com toda sua complexidade.
Bom, reconheço como a grande e maior parte das bailarinas da atualidade em todo mundo fazem parte desse primeiro grupo e sinceramente, não vejo motivos para dizerem que “estuda nagwa fouad”. Mais honesto seria dizer que estuda a história da dança do ventre e sua trajetória até os dias atuais. Pois dançar algo no qual não se encontra traços da estrela, não é estudar de fato a sua dança para que seja utilizada como referência e sim estudar sua biografia para fins de pesquisas.

Uma época conhecida como “dourada” não recebeu esse nome em vão, e para um maior entendimento disso é necessário conhecer os motivos que a gerou. Mas não é o meu objetivo entrar nesse apanhado histórico nesse momento.

Sabendo dos motivos, logo saberão a BASE do que veio a se tornar Raqs Shark e como se deu suas transformações até chegar a danças completamente modificadas e longe do que seria a dança das nossas grandes estrelas e referências da era gold.


Mas quero deixar muito claro que são apenas escolhas. Não há nada de errado em optar por estudar um grupo de bailarinas e não outras, pois, todas temos nossas preferências. Mas gostaria muito de que cada bailarina e professora olhassem com sinceridade para o seu trabalho e entendê-lo, reconhecê-lo, compreendê-lo para poder agir com mais clareza e objetividade em seus shows, aulas e workshops sem usar falsas referências.

Para mim, estudar Nagwa, ou qualquer outra bailarina, é ver muitas apresentações dela, repetidas vezes, capturar detalhes, capturar sua essência, estudar sua biografia, seu repertório, questionar “por que ela fez isso nesse momento da coreografia?” e colocar em prática tudo isso durante horas diárias de treinos em sala de aula na frente do espelho, sem o espelho, de ponta cabeça, ao avesso! Enfim.

Depois fazer exercícios de desconstrução, construção, adaptação, limpeza técnica, etc, saberá como é muito trabalhoso e difícil. Entenderá que sua reputação não é em vão e aprenderá a não subestimar o antigo em detrimento do moderno. E o mais importante: perceberá as diferenças claras entre dançar uma música e se tornar a música.

Antes que pensem que eu sou antiquada, pois não quero viver os “avanços” da dança do ventre “moderna” eu esclareço: É possível que bailarinas inovem, apurem, refinem a dança do ventre cada vez mais ao longo do tempo, sim. Cito o maior exemplo de todos que é a grande bailarina Serena Ramzy (ler artigo “Serenando” http://trianices.blogspot.com/2011/11/serenando.html). No entanto, sou contra a transformação a dança do ventre em outra modalidade irreconhecível.

Existem estrelas de ontem e de hoje, porém estão cada vez mais escassas graças a falta de referências verdadeiras ou a declaração de “quem são suas referências verdadeiras”. 

7 comentários:

  1. AS bailarinas da Golden Age tinham um diferencial que considero crucial na dança: elas estabeleciam comunicação com o público. E esta é a 1ª função da bailarina de dança do ventre.
    As de hoje, bem...

    (me sinto uma besta de não ter conhecido o seu blog antes, florzuda!)

    bj, Vi

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  2. Tri, não conhecia "seu cantinho". Muito legal por aqui, voltarei sempre.
    Sobre o que você escreveu, eu acho que muitas bailarinas citam que estudam as bailarinas antigas mais por status do que por identificação e, na verdade, só "dizem" mesmo, assistem um videozinho vez ou outro no Youtube e olha lá...
    No entanto, eu não acho que você estudar uma bailarina implica em ter traços dela em sua dança.
    Eu não gosto de Nagwa Fouad, nem de Samia Gamal, mas as estudo e assisto. Obviamente, não com o mesmo interesse e afinco que estudo Taheya Karioka, com a qual me identifico. Esta sim, tem minha total atenção...
    No mais, acho que a Serena é mesmo a melhor forma de ilustrar como o antigo e o novo podem estar em perfeita sintonia.

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  3. Vivi! seja bem vinda! Sou uma apaixonada pelas bailarinas antigas, claro que isso é uma escolha pessoal. Observo que elas tinham mesmo uma forma muito diferente de se comunicar com o público... Conseguiram fazer algo "elitizado" (quando se trata de glamour) se tornar popular, isso é incrível! bjs!

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  4. Elaine, obrigada pela visita!
    Concordo que não eh necessário ter traços da bailarina que estuda em sua dança, caso o estudo tenha aquele objetivo número "1". Que é o de não ficar na "ignorância" de quem foi Nagwa fouad e nem conhecer sua dança.
    São objetivos diferentes que deveriam ser citados nas aulas e works, na minha opinião.
    Essa postura de dizer "não gosto de Nagwa, mas estudo e assisto seus videos" é o que considero ideal, sincero e claro. Gosto muito!

    bjs!

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  5. Muito legal o artigo Triana, parabéns pelo blog! bjss
    cristina antoniadis

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  6. Olá Triana,

    Muito legal o seu texto, parabéns!!!

    O diferencial são muitos, havia amor a dança, sabiam o que estavam dançando, conheciam os ritimos, os instrumentos melodicos e de percussão, não entravam no escuro sabiam o que é folclore, o que classica e o que era moderno na epoca.

    bjo e parabéns novamente!

    Pierre Salloum

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    1. Obrigada Pierre! É isso que desejamos que se perpetue entre os artistas da área até hoje e SEMPRE! BJS!

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