segunda-feira, 18 de abril de 2011

Note Acer



Como eu fico muito tempo no meu computador fiz esse poeminha para piorar as coisas!!! A minha família costuma a reclamar sobre esse "vício", mas eu nem sei direito o que dizem, já que estou concentrada demais em outra atividade! Lá vai!


Em sua pele lisa;
 Meus dedos deslizam e abro-te em dois.
 Sua face brilhante;
Me hipnotiza no primeiro olhar.
E quando me falta, me leva em desgraça;
E quando não falta me leva ao vício;
Labirinto infinito de cores, sons e fantasias astrais.

Gosto do seu sorriso;
 Seu jeito atento me avisa do dia, da hora como quem quer me cuidar;
Gosto dos teus olhos;
Tornando o espelho tirando os defeitos que eu devo ter;
Gosto do seu toque;
Como um piano traduz dos meus dedos as notas de contos reais;

Escraviza sua dona;
 Possui o objeto;
Perfeito imperfeito;
Quem tem mais defeito que sabe quem é de quem.
Te afago no colo feito mãe cuidadosa;
E como amante;
Te pego, te uso e preciso.
Depois te humilho;
Te encho de lixo, maldigo e digo que vou te trocar.

“Aprendendo” a dançar


É muito comum como professoras a ouvirmos perguntas como as do tipo “quanto tempo levarei para aprender a dançar?” ou “é muito difícil?”. Não menos comum é ouvirmos de alunas que já iniciaram a pouco tempo “esse movimento eu não consigo!” ou “odeio fazer esse passo”. E ainda em alunas já com algum tempo e envolvimento na dança ouvirmos “Ah, isso eu não quero fazer” e logo se retirar da aula ou aguardar em um canto.
Por favor, alunas que se acharam nessas declarações, não se sintam criticadas ou indesejadas! Pois, se há um conflito entre nós e a dança, então mãos a obra! Tiremos da gaveta, sacudimos a poeira e recordaremos daqueles motivos que nos levaram a querer dançar e por que caminhos tivemos, temos ou teremos que enfrentar! Por fim, tomar a decisão final: “Quero isso pra mim?”
Bom, não é como professora ou mediadora no ensino da dança que pretendo tocar nesse assunto, porém, não poderei me omitir dele, já que essa é a finalidade real desse artigo. O de estimular alunas de todos os níveis e objetivos com que encaminhem a sua dança para um aprendizado LIVRE, VERDADEIRO E COMPENSADOR.
A dança assim como em todas as nossas atividades cotidianas, a dança irá refletir quem somos, ou seja, independente se pratica a dança do a 1 dia ou 1 década, cada vez que fizer um movimento estará se envolvendo antes de tudo consigo mesma. Sim , exatamente! Com que és!
Por exemplo, ao fazer o movimento do “8”, no caso de nunca ter realizado antes suas espectativas já falarão muito sobre você inevitávelmente; Se olhar e pensar  “ Nossa! Quero muito fazer isso!” indica um estado de espírito renovador, otimista e abre porta para que os próximos passos  sejam em busca de se aventurar em seu próprio corpo em busca de deslocar o quadril, dobrar os joelhos, manter tronco ereto e finalmente ter controle total de si mesma! Vasculhar na memória corporal, construir uma nova! Se alimentar de idéias criativas para fazer o seu quadril entender o mesmo que sua mente entende e entrarem em sincronia!
Mas veja, se o primeiro pensamento de quando for fazer o “8” for: “Isso eu nunca vou conseguir fazer!” estará impondo barreiras a si própria, como uma peça já acabada que nada mais se pode fazer.
Ora! Seu corpo te lembra a cada instante que isso não é verdade! Por acaso quando respiramos e nossos pulmões se enchem de ar, eles se dão por satisfeitos e se negam a expelir para fora e em seguida repetir o mesmo processo? Estamos vivos! Não fuja da vida, não pare de respirar!
Logo podemos perceber que tão natural e frequente é a nossa respiração que acabamos por nos esquecer dela, esquecemos que respiramos até o momento que pegamos uma gripe e começamos a tossir, não eh?
Pois bem, para quem já sabe fazer o “8” e já se sente tão bem fazendo esse movimento com perfeição pode não achar que ele pode pegar uma “gripe” também. Por isso, cuide dele com carinho, repita o movimento como se fosse a primeira vez. Mas isso não significa que cuidando dele não terá condições de respirar um schimie! Afinal, para se manter vivo é necessário oxigênio novo, sempre e sempre seguidamente!

Respiremos com respeito a essa sabedoria que nos foi ofertada! Se algo impulsionou você a dançar certamente não é em busca de um resultado objetivo e imediato como um objeto a ser polido, apenas. Não se compare a um objeto! Objetos não respiram! Objetos não se relacionam consigo mesmos!
Se algo impulsionou você a dançar certamente foi a vontade de estar vivo e não a deixe contaminar com os impulsos negativos que costumamos a absorver no nosso dia-dia e que nos fazem tossir, nosso pessimismo, cansaço, recolhimento, comodismo, etc. Façamos o contrário, lembramos a cada aula de que respiramos e por isso estamos nos reinventando a cada momento sem jamais esquecer de que “ és dona de si mesma e através da sua mente determina o que faz seu corpo”.

Onde mora a Dança do ventre?


Meu corpo é o registro físico da minha trajetória de vida. Nada como aquela cicatriz enorme e esbranquiçada na canela para me lembrar de que um dia fui uma criança, que por entre aqueles passinhos tortos da botinha ortopédica preta tropeçava em si mesma em meio ao concreto grosso. Minhas botinhas, cujo meu pai me ensinou a engraxar para que ficassem polidas e brilhantes. E minha mãe sempre olhava com cuidado para ver se não estavam trocados os lados. Aquelas botinhas com palmilhas grossas que faziam meus pés esquentarem e me envergonhavam sempre que alguém me fazia lembrar que eu as usava quando me perguntava: Porque está usando esses sapatos  esquisitos? Não estão com os pés trocados? Mas não estavam com os pés trocados. As botinhas tinham os bicos arredondados e ainda eram um pouco curvados para os cantos de fora, na tentativa de corrigir a pisada que se direcionava para dentro, evitando com que as pontas dos meus pés se encontrassem e se cruzassem, e lá se ia mais um tombo!
O interessante é que sempre que me faziam a tal pergunta, eu já tinha a resposta na ponta da língua! Explicava o motivo do formato da botinha preta, com esperança de que o assunto terminasse por ali mesmo. Mas, como os adultos sabem mais do que as crianças, não custavam a insistir. E logo vinham com a segunda observação: Mas estão trocados os lados! Já não era mais uma pergunta, era uma afirmação em tom impositivo. Bom, uma criança de seis anos de idade não tem prestígio, ainda bem que a minha mãe sempre observara a verdadeira posição das botinhas pretas!
As botinhas nunca me abandonaram, mesmo quando parei de usá-las. Mesmo quando se tornou muito importante para eu calçar aquelas sandalinhas da Xuxa de plástico, tão desconfortáveis quanto de gosto duvidoso. Mas, toda menina deveria ter uma dessas. Ainda bem que meus pais nunca deram tanta importância a esses modismos.
Agora, vocês devem estar se perguntando o que tem haver essas benditas botinas pretas com a dança? Ora! Meus passinhos tortos que me levaram à dança! Todos sabem que o ballet clássico faz bem para as pernas e pés!
Ali estava eu, conheci minha primeira professora de dança, a tia Angélica. Durante os próximos 5 ou 6 anos achava mesmo que ia ser uma grande bailarina e que podia aprender tudo com a tia Angélica na  academia da Granja Viana em Cotia/SP. Mas só fui perceber que existia andeors, pernas altas e peito de pé quando conheci a Kátia.  que era mãe da minha melhor amiga na quinta série, Katia era bailarina formada no teatro municipal, isso fez meus olhos brilharem!
Era inevitável o rompimento do cordão umbilical com a tia angélica e fomos procurar outra academia, e lá estava a faixa “aulas de dança do ventre”.
                Adriane foi a minha primeira professora da misteriosa dança do ventre e não posso negar que foi muito fácil e delicioso fazer os oitos e batidas de quadril. Com ela tive o primeiro embasamento da prática da dança do ventre. Ainda lembro-me da roupa de veludo preta que ela usava, com lindas pedras douradas e muitas franjas de moedinhas (talvez seja mais linda na minha imaginação do que na realidade, eu não sei dizer).
Perdi contato com professora Adriane depois que me mudei pra Curitiba, mas ainda bem que a umas três quadras da minha casa havia uma pequena escola de dança com o nome “Inspiração”. E não é que lá tinha aulas de dança do ventre?! E ainda de street dance.
A pequena escola Inspiração foi a minha grande escola na verdade. Tecnicamente não tinha muito mais o que aprender com a Mary sobre dança do ventre especificamente, mas foi com ela que passei a perceber a dança como algo que vai além de técnicas, que para mim era como um campo selvagem, desconhecido, obscuro. Inspiração, foi exatamente isso que representou essa vivência.
Não aprendi lá um uma fusão de tremidos com ondulatórios, nem deslocamentos Mona Said, muito menos os “tranquinhos” de Madam Raquia. Mas minha formação clássica, meu físico e iniciação profissional como bailarina e professora  estavam se transformando.
Não posso deixar de falar sobre o Toco, meu professor de dança de rua. Disciplina, dedicação, aprimoramento e muita experiência de palco. Mas antes de tudo, fazer parte de uma estrutura famíliar que se forma em um grupo de dança e chegar ao ponto em que se deva passar por cobranças ácidas e avaliações com muita perseverança foi realmente acrescentador.
Como já tinha idade e condições para desfrutar de alguma liberdade financeira, como também de me locomover na cidade sem depender dos meus pais, fui buscar conhecer mais sobre a dança do ventre. Então conheci a Rose quando fui vê-la dançar num barzinho tradicional árabe e ela me chamou pra dançar. A Rose percebeu que eu tinha algum domínio sobre a dança do ventre e me convidou para dar aulas em sua escola “Avalon”, que funcionava no seu próprio apartamento.
A Rose me ofereceu boas oportunidades no meio da dança e eu percebia que ela notava algum talento em mim. Cheguei a trabalhar como secretaria da sua escola também, apesar de não ter sido fácil esse período, foi nessa época que passei a estudar mais a fundo os preciosos vídeos da Lulu Sabongi que Rose colecionava. Foi ali também que a minha dança ganhou um “q” de sofisticação e delicadeza.
Mas enfim, me encontrei com quase dez anos estudando e conhecendo a dança do ventre e a falta de caminhos me atormentava. Eu não encontrava meios de crescer profissionalmente, tinha chegado a um ponto em que não sabia mais como ir além do que já conhecia e não queria traçar os mesmos caminhos que as outras bailarinas traçavam. Nada mais pra mim era novidade, mergulhei no campo das artes visuais e esqueci a dança por uns 3 anos.
Tem certas coisas que ficam pulsando bem fraquinho dentro de nós e quando me mudei pra Cuiabá encasquetei em voltar à dançar. Era como se precisasse de ar. 
Conheci então a minha querida amiga e professora Yasmine, que fui descobrir depois de algum tempo que seu nome verdadeiro era Claudia, mas o que é verdadeiro? Yasmine também é muito verdadeiro e a questão é: O que é verdadeiro dentro da dança do ventre? Iria além, e dentro das artes?
Hoje me deparo entre regras socialmente padronizadas no meio acadêmico e a liberdade total, sem regras no mercado das artes. Mas vou voltar a falar apenas sobre a dança e mais especificamente sobre a dança do ventre.
A dança do ventre está dentro do campo das danças sociais, festivas, folclóricas e que tem raízes culturais, praticada por pessoas de maneira espontânea e amadora nas comunidades. E a partir daí que ela, há relativamente pouco tempo, comparada a outras modalidades começou a se profissionalizar como conhecemos hoje (cerca de um século). Porém nunca abandonou seu caráter social. Unido a isso e por conta disso, ela se caracteriza por utilizar meios de improvisação e individualidade na interpretação da bailarina dentro do seu contexto estético. E, realmente são essas características principais que me encantam na dança do ventre.
Pode parecer muito fantasioso tratar de sentimentos e sensações que a dança pode provocar em uma pessoa e às vezes até um pouco místico, principalmente quando vem em mente a expressão “dança do ventre”. Mas é certo de que existe um senso estético e tradicional a que se deve respeitar devido à carga cultural que ela carrega. No entanto, ao mesmo tempo seria muita pretensão de qualquer ser humano delimitar regras e normas exatas sobre as técnicas dessa modalidade e afirmar com tanta eloquência detalhes minuciosos e subjetivos em relação à pratica da dança.
Ao longo da “minha história na dança” (expressão que ouvi da professora Suzana em Campo Grande), passei por algumas avaliações formais sobre a prática da dança do ventre que apresento e venho me deparando, muitas vezes, com tamanhos despropósitos de opiniões e condutas por parte dos avaliadores.
Enquanto um avaliador renomado tece seus parâmetros técnicos apontando como verdades absolutas seus preciosos movimentos corporais e condutas profissionais. Outros tecem diferentes parâmetros estéticos e verdades absolutas que contradizem uns aos outros. E então, onde mora a verdadeira dança do ventre?
Não é difícil compreender que a dança do ventre, assim como qualquer outra, só pode morar no corpo de quem a dança. E o corpo, por sua vez, é único, repleto de trajetórias, histórias, cicatrizes. É a memória do corpo. E o que somos senão memória?
Somos a nossa memória, por dentro e por fora. Nossas mentes brincam e manipulam as nossas memórias e nosso corpo representa a nossa memória, fisicamente ele é coordenado pela nossa memória e mesmo que vicioso ou deficiente, nosso corpo, ainda faz parte do que somos ou mais, representa o que somos, ou mais, é apenas o que somos (não vou adentrar aqui nas relações dos conceitos do “belo”).
Meu corpo em minha dança ou minha dança em meu corpo está repleta de memórias, repleta de mim mesma e a dança do ventre possibilita expressar essa individualidade entre o tradicionalismo cultural e ao desamparo acadêmico, gerando maior flexibilidade na liberdade da prática da dança.
Essa característica da flexibilidade natural na pratica da dança do ventre parece ser, muitas vezes, esquecida ou subitamente arrancada da sua própria condição histórica e cultural pelos avaliadores tão gabaritados na área. Mas o que mais me preocupa é a falta de embasamento teórico e de pesquisas para a criação de seus parâmetros e suas verdades absolutas, tanto as ligadas às culturas dos quais se originaram a dança do ventre como às que estão ligadas ao entendimento e representação artística da dança como simples expressão do corpo e individualidade humanas.
Por isso, penso que os métodos de avaliações atuais necessitam urgentemente serem revistos e reconstruídos, este, deveria fazer parte de um processo de conhecimento mútuo e seu resultado jamais deve ser passado de maneira impositiva ou taxativa. Creio que bons professores da dança preocupados em aprofundar o conhecimento de seus alunos e colegas já estão tomando essa iniciativa a fim de sensibilizar a produção artística da classe.
Agora digo aos avaliadores, muito obrigada por ajudar a enxergar a mim mesma, mas antes de tudo, respeitem a trajetória da “minha história na dança” não subestimem, não queiram obrigar a modificar o que não julgo necessário, não tirem de mim as “verdades” de Yasmine, não tirem de mim os movimentos pequenos e delicados da Rose (e da Lulu, porque não?), não tirem de mim a inspiração da Mary, não tirem de mim a perseverança do Toco, não tirem de mim a meia ponta da Kátia, não tirem de mim a base da Adriane não tirem de mim a ingenuidade da tia Angélica e por fim, não tirem de mim minhas botinhas pretas, pois, os lados não estão trocados!




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Umm Kulthoum a "Estrela do Oriente"

Biografia

A cantora, compositora e atriz Umm Kulthoum  mesmo a mais de três décadas após sua morte, ainda é reconhecida e reverenciada  como uma das personalidades mais ilustres do mundo árabe do séc. 20. Não é por menos que responde pelo título de “a estrela do oriente”, pois sua figura foi fortemente marcada não só no Egito como em todos os países árabes, tanto artisticamente, quanto culturalmente e politicamente. Ela se tornou realmente uma referencial musical e humana – um mito.
 Nasceu com o nome de Fatima Ibrahim al-Baltaji na aldeia de Tamay ez-Zahayra em El Senbellawein, província de Dakahlia, na região do Delta, perto do Mar Mediterrâneo. Sobre sua data de nascimento, o Ministério da Informação do Egito parece ter considerado  31 de dezembro de 1898 ou 31 de dezembro de 1904. Provavelmente ela nasceu entre essas duas datas, pois, esta,  não pôde ser confirmada.
 Sua família era pobre e seu pai, al-Shaykh Ibrahim al-Sayyid al-Baltajil, era um “xeque” local  que recitava o Alcorão em ocasiões festivas, como casamentos ou os Maulids (celebrações das datas de nascimento de figuras do islão, como do profeta Muhammad) e sua mãe era doméstica.
Desde muito pequena, Umm kulthoum se mostrou muito talentosa para a música e seu pai, então, lhe ensinou a recitar o Alcorão, que segundo ela própria, havia memorizado o livro todo. Com cerca de 10 anos, seu pai a disfarçou de homem e levou-a para participar da pequena companhia de recitação do qual ele organizava.
Aos 16 anos, começou a aprender músicas de repertório clássico com um cantor chamado Abol Ela Mohamed e poucos anos depois, ela conheceu o famoso compositor e tocador de oud (alaúde) Zakariyya Ahmad, que a convidou para ir à capital Cairo. Porém, só em 1923 ela e sua família se mudaram para a capital onde iniciaram seus estudos na música com professores contratados por seu pai a fim de aperfeiçoar o talento as filha.
Umm Kulthoum freqüentava a casa de alguns artistas e aprendeu a tocar oud com o músico Amin Beh Al Mahdy e se tornou a melhor amiga de sua filha Rawheya Al Mahdi. Nessa época, evitava aparições públicas e sempre andava acompanhada por seu pai, mas já na década de vinte tinha sua própria independência.
A Cantora sempre teve um comportamento controlado e reservado para o meio artístico em que freqüentava, não sucumbindo ao estilo de vida boêmio e sempre enalteceu suas origens humildes e ao apego religioso, o que contribuiu muito para admiração  e respeito do publico.
Ao ser apresentada por Ahmed Rami, Kulthum foi introduzida na literatura francesa, pois o compositor estudara na Sorbonne em paris e mais tarde se tornou o principal mentor na Literatura árabe. Ele escreveu 137 canções para Kulthum. Além disso, ela teve contato nessa mesma época com o renomeado músico, tocador de oud Mohamed El Qasabgi e introduziu a cantora no Palácio do Teatro Árabe, onde ela fez seu primeiro grande sucesso público.
Em 1932, sua fama aumentou de fato e Umm Kulthum deu início a uma grande turnê pelo Oriente Médio fazendo shows pelas principais cidades da região como Damasco, Bagdá, Iraque, Beirute e Trípoli no Líbano.
Nesse período Umm Kulthum começou a gravar discos e em 1935 ocorreu a sua estréia cinema, com a longa-metragem Wedad. Este foi o primeiro de seis filmes que contaram com a participação da artista. As canções interpretadas pela artista eram de natureza religiosa e popular.
Sua influência foi tamanha que se estendeu para além da área artística, ao longo de sua carreira teve forte representação popular, religiosa e política. Umm kulthoum se apresentou em concertos privados para a família real que iriam prestigiá-la inclusive nas aparições publicas também.
Em 1944, o rei Farouk I do Egito condecorou-a com o seu mais alto nível de ordem (Nishan El Kamal), porém, apesar desse reconhecimento, a família real se posicionou contra seu potencial casamento com o tio do rei. Essa rejeição feriu profundamente o orgulho de Kulthoum, o que levou ela a se afastar da família real, dando maior empunho as causas populares como, por exemplo, a resposta aos pedidos pelos egípcios presos em Falijah em 1948 durante o conflito árabe-israelense, cantando, então uma música em particular para eles. Foi assim que em 1948 Gamal Abdel Nasser, futuro presidente do Egito, se tornou admirador do talento de Kulthum, pois era um dos militares que assistiram a esse concerto.
Nasser foi um dos que lideraram a revolução sem derramamento de sangue de 23 de julho de 1952 e já se tornara um grande admirador da artista Umm Kulthoum. Nesse momento, os músicos egípcios “guilda”, dos quais ela se tornou membro (e até presidente), estavam sendo impedidos de trabalhar, com a desculpa de que haviam se apresentado ao deposto rei Farouk do Egito. Ao saber que Kulthum não poderia mais cantar, Nasser teria dito algo no sentido de “O que são? Loucos? Querem que o Egito se volte contra nós?”. Assim, puderam voltar a se apresentar no Egito.
Em 1953, casou-se com um homem que a respeitava e  admirava, seu médico por muitos anos, El Hassen Hafnaoui, tendo o cuidado de incluir na mesma cláusula de casamento o poder dela de decisão de divórcio, se aplicável. (conduta raramente usada nesse período no Egito e demais países de cultura religiosa mulçumana).
Em meados dos anos 60, a saúde de Umm Kulthoum começou a se deteriorar. Tendo que cancelar seus espetáculos devido a problemas na vesícula biliar e posteriormente infecções no fígado. Ela se mudou para os Estados Unidos na tentativa de um melhor tratamento para sua doença, no entanto, retornou ao seu país de origem com a saúde já muito debilitada, fazendo seu ultimo concerto em dezembro de 1972.
Um Kulthum faleceu no Cairo em 03 de Fevereiro de 1975 vítima de um ataque cardíaco. Seu funeral foi marcado para a mesquita Umar makram, local conhecido por nele decorrerem funerais de altas personalidades egípcias, contudo, teve que ser adiado por 2 dias, devido a chegada de numerosos fãs ao país, mesmo esse adiamento ser contra as práticas funerárias mulçumanas.
Seu funeral foi assistido por mais de 4 milhões de pessoas e a multidão tomou controle de seu caixão, que foi carregado até a mesquita e então liberado para o enterro.

Sua obra e popularidade


"Imagine um cantor com o virtuosismo de Joan Sutherland ou Ella Fitzgerald, a personalidade pública de Eleanor Roosevelt e audiência de Elvis e você tem Umm Kulthum, a cantora mais talentosa de seu século no mundo árabe."
Virginia Danielson, Harvard Magazine

A fama de Umm Kulthoum se tornou grandiosa graças a diversos fatores históricos, sociais, políticos, culturais, artísticos e pessoais tendo o seu trabalho influenciado músicos como Bob Dylan, Maria Callas, Bono, Led Zeppelin e outros.
No início de sua carreira havia duas cantoras que também se destacavam no meio artístico e que também tinham vozes belas e poderosas, eram elas: Mounira El-Mahdiya e Fathiyya Ahmad. No entanto, Umm Kulthum se destacava por ter um maior controle sobre sua voz, como também maior impacto emotivo vocal, isso fez com que atraísse os melhores e mais famosos compositores, músicos e poetas para trabalhar com ela.
Ao final da década de 20, Mohammad el Qasabgi, que era o tocador de oud de maior técnica e um dos mais talentosos compositores árabes do século XX, porém, ainda não reconhecido, formou sua pequena orquestra (takht), composta pelos instrumentistas da mais alta técnica. Ele introduziu na música egípcia instrumentos europeus, como o violoncelo e contrabaixo, além disso, ao contrário da maioria dos artistas que lhe eram contemporâneos, que realizavam concertos privados, muitas de suas performances junto a Umm Kulthum eram abertas ao público, o que contribuiu para que a música clássica, vista como elitista, transitasse para a música popular árabe.
Seus concertos eram muito longos, cerca de 6h de duração, no qual se poderia interpretar de 2 a 3 canções, assim era um típico concerto de Umm Kulthoum, desfrutando ao máximo e com muita propriedade do meio improvisação característico da cultura árabe. Dentro desse universo, Kulthoum soube desenvolver uma técnica própria de improviso repetindo uma única frase ou trechos de uma mesma música muitas vezes, alterando sutilmente a ênfase emotiva e intensidade a cada momento, foi considerado como "nunca ter cantado uma linha da mesma forma duas vezes".

Para ela, essa interação emotiva com o público era tão intensa que foi o principal motivo que a fez querer parar de atuar no cinema, pois não se sentia satisfeita com a frieza dos estúdios de filmagem, além do mais, as luzes danificaram seus olhos claros e sensíveis, forçando-a a usar óculos escuros na presença de luzes fortes.
A maior parte das gravações de suas musicas foram feitas ao vivo, e nelas é possível captar essa interação da cantora com o público o que torna o resultado antes de tudo fascinante. Poucas de suas gravações foram feitas em estúdio, e essas, por sua vez, foram feitas antes de terem sido cantadas ao vivo.
As musicas representadas por Umm Kulthoum em sua maioria trata de temas universais como amor, saudade, perda, mas ainda há um grande repertório de musicas nacionalistas e religiosas. No entanto, a maior parte de suas canções são realmente tristes. Essa característica pode se notar sem mesmo fazer a leitura de suas letras, pois, apenas ouvindo suas interpretações são claramente notáveis os sentimentos sendo transmitido, o que inclusive, eleva sua sonoridade ao estado de “tarab”, estilo em que a cantora transcende a um estado de êxtase musical. Esse estado de euforia é partilhado entre o artista e o público como uma forma de “catarse”. Habib Hassan Touma explica:
“A intensidade da tarab depende principalmente do desempenho e estilo de voz do cantor, como exemplificado por Umm Kulthoum melódico. Suas performances, muitas vezes, apenas dispõem de uma sequência fixa rítmico-temporal junto à organização das passagens melódicas. Ela trabalha algumas de suas rigorosas formas rítmicas a fim de repetir e variar os trechos individuais de forma improvisada, ou transformar o material musical mais dramático no âmbito dos tradicionais princípios culturais. Suas performances, dessa forma, se definem por entre o que ela  apenas interpretou e o que ela mesma criou . O contraste musical entre o fixo e o improviso livremente estruturado, embora relacionados, cria, em geral, uma tensão de opostos que evoca a tarab  que é familiar ao ouvinte. A ênfase deste contraste representa o mais marcante elemento estilístico de Umm Kulthoum de arte. " (Música dos árabes, p.149)
Normalmente os compositores escreviam canções especificas para serem interpretadas por Umm Kulthoum. Mohammed el-Qasabji era o compositor que escreveu a maior parte das músicas interpretadas por Kulthum no início de sua carreira, no entanto, a partir da déc. de 30 que a cantora obteve maior sucesso com as composições de  Riad el-Sounbatti e que continuou a escrever para a cantora até a sua morte, sendo o compositor que forneceu o maior número de canções à estrela durante sua carreira.
Em 1934, Umm Kulthoum já era certamente uma das cantoras mais famosas do Egito e foi escolhida como a artista a inaugurar a Rádio Cairo com sua voz em 31 de maio. Foi também nos anos 30 que a cantora começou a participar de musicais e em transmissões regulares na rádio ao vivo de seus shows além de sua estréia no cinema. Era conhecida por esvaziar as ruas do Cairo durante sua transmissão.
Os anos 40 foram muito representativos em termos de fama e também apuro técnico de sua incrível capacidade vocal, diz-se que sua voz clara e forte fazia 14000 vibrações por segundo, esse período foi popularmente nomeado por “idade de ouro” de Umm kulthoum. Muito de seu trabalho neste momento foi escrito por Zakariya Ahmed, suas composições tendem a ser relativamente simples, permitindo amplo espaço para a improvisação tanto para Umm Kulthoum quanto para seus instrumentistas. Isso representou uma mudança dramática das canções românticas modernistas dos anos 30 o que resultou num repertório populista e duradouro para o público egípcio.

O ativismo político de Umm Kulthoum aumentou depois da revolução Egípcia de 1952. Em entrevistas, ela falou abertamente sobre seu reconhecimento e crescimento a partir do empobrecimento da população do Egito e suas esperanças.

Após a derrota do Egito na guerra de 1967 contra Israel, ela, Kulthoum realizou uma série de concertos para beneficiar seu país. Em meio aos grandes problemas de ordem política, econômica e cultural que o Egito enfrentava, a cantora foi símbolo marcante para a reestruturação da nação apoiada por uma relação estreita de amizade com o presidente Nasser que encaminhou seu governo ditatorial rumo a um ideal de modernização e identidade cultural da nação egípcia financiando e incentivando diversos ramos de produções artísticas como o cinema, música, literatura, dentre outros.
Kulthoum alem de arrecadar fundos para o governo, investiu em obras de caridade e ficou famosa por fazer doações aos pobres. Uma das notas de sua biografia diz que ela ajudou mais de 200 famílias de agricultores durante sua vida. Além disso, a cantora sempre viveu, sem ostentação e com o desejo de ficar mais perto da vida dos seus compatriotas.
Nessa década de 60, Riad el-Sounbatti escreveu canções como ""Al Atlal" (1966) é particularmente um famoso trabalho deste período, pois, a princípio, trata-se de um poema de amor, mas as palavras abrem espaços a outras interpretações de cunho político e crítico com relação a situação política vigente no Egito. Virginia Danielson (sua biógrafa) descreve: "Várias das linhas clímax tem um significado político: Dá-me minha liberdade, de libertar as minhas mãos!" Eu tenho dado livremente, eu tenho travado sem nada sangrar. Ah, o que suas correntes fizeram ao meu pulso... . Em 1966, essas linhas foram vistas por alguns como destinatários as medidas repressivas do governo Nasir. Após a derrota egípcia de 1967, adquiriu um significado maior , sugerindo um sentimento de cativeiro de muitos egípcios e árabes no mundo inteiro. " (Voz do Egito, p. 180)
Na sequência da derrota do Egito na guerra de 1967, ela realizou uma série de concertos para beneficiar o Egito. 

“Inta Omry” (1964) foi a primeira peça Mohammed Abdel Wahab composta por Umm Kulthoum, e é também a primeira vez em que ela cantou acompanhada ao som de  uma guitarra elétrica que foi introduzida na formação dos instrumentos. Isso não é uma coincidência: Abdel Wahab é por vezes referido como um "modernista" no sentido de que ele adotou novos instrumentos estrangeiros. Uma grande atenção foi dada à produção em estúdio dessa canção: "Sayyid al-Masri (que esteve diretamente envolvido) estima que a edição de 'Inta Omry” durou " 200 horas ". (Shaping Tradition, p. 263).

Baligh Hamdi, um jovem compositor na época, também começou a compor para Umm Kulthoum na década de 1960. A gravação ao vivo de Baligh Hamdi é "Baid Anak" (1965) demonstra a impressionante forma com que Kulthoum cativa seu público. Gravação revela um membro da platéia, muito entusiasmado grita muito alto logo após Kulthoum começar a cantar, a artista simplesmente tece seu canto em torno de seu choro, sombreado por ela corre o kanun improvisado, e afirma controle total sobre a platéia. 
Hoje, mais de 300.000 gravações da cantora são vendidas anualmente em sua terra natal. A voz do "Rouxinol do Egito" ainda paira nos cafés do Cairo, nos táxis, parece estar a correr na brisa de Alexandrina. Para os egípcios há duas coisas que nunca mudam no Egito: as pirâmides e a voz de Umm Kulthoum. Um filme biográfico, “Umm Kulthum: A voz do Egito” foi lançado em 1997 e uma biografia foi escrita pela americana Virginia Danielson em 1991 pela Universidade de Chicago.

A música de Umm Kulthoum e a dança


Considerações pessoais
Somando todos os componentes que completam a magnitude da obra de Umm Kulthoum não é difícil entender o motivo que a leva ocupar uma das principais referências musicais (me arrisco em afirmar, a principal referencia musical) utilizada não apenas como uma necessidade superficial para a realização da movimentação corporal técnica da dança, aliás, essa interpretação ou “manipulação” empregada na relação musica-dança não é aplicável a esse gênero de dança, pois, este, carrega uma hereditariedade histórica, geográfica e cultural que a condiciona a uma conduta muito mais ampla e aprofundada de expressão artística.
A importância da utilização da música de Kulthoum como referência para a dança do ventre e demais variedades de danças tradicionais da cultura árabe está diretamente ligada à própria transformação histórica e cultural que o Egito e o próprio Oriente Médio passara no período entre o final do séc. XIX até os anos 70 e podendo se estender até hoje devido a sua forte e tradicional cultura que luta contra a ocidentalização.
Unindo o grandioso talento de Kulthoum aos compositores de renome, à necessidade  e a política de reestruturação e reafirmação das raízes culturais egípcias com a  advento do rádio, cinema e televisão traçou-se tradições culturais renovadas também  e destas, o surgimento do mito Umm Kulthoum.
Obviamente a sonoridade criativa e emotiva das canções de Kulthoum é prato cheio para qualquer bailarina de Dança do Ventre, pois é a partir da música que a bailarina demonstra sua sensibilidade e através de seu corpo transcende essas emoções, para si mesma e para o público.

Outro fator de extrema relevância é o fato de que a artista é símbolo da popularização da música clássica. A abertura desse canal de estreitamento entre o “nobre” e o “popular” tornou possível a glamorização da dança do ventre, mudando radicalmente daí por diante a história das danças orientais no mundo. Pois a dança, uma vez popular e grosseira, necessitou de maior refinamento em detrimento da música clássica. Esse refinamento se deu tanto nas técnicas dos movimentos corporais quanto nos trajes, vestimentas e conduta profissional e artística das bailarinas.

A partir desse momento, as bailarinas ocuparam outro espaço social e artístico, agora surgiam as “estrelas” no mundo da dança, a exemplo disso temos Samia Gamal que inclusive desfrutava de composições musicais de Kulthoum e Mohamed Wahab feitas exclusivamente para ela.
Tecnicamente falando, as notas musicais, os instrumentos, os ritmos e as vibrações sonoras da maior parte das canções que ficaram marcadas por Kulthoum, são incrivelmente satisfatórios para qualquer bailarina que possui boa formação clássica oriental. Sua leitura corporal deve responder tanto à melodia quanto às nuances e mudanças rítmicas que compõem a sequência musical, além da percepção e leitura dos diferentes instrumentos musicais que lhes são característicos, não deixando de lado jamais seus solos com base de improvisação como também se deixar infiltrar pelo estado de tarab.
Realmente é intrigante pensar em como tal riqueza e sutileza auditiva despertada por Kulthoum conseguiu abranger todas as camadas da população do Oriente Médio. Certamente porque essa riqueza não é apenas auditiva, está relacionada a questões propriamente humanas. Tão ou mais intrigante ainda é o fato da revelação de tal mito ser representada por uma mulher, em uma cultura que restringe tão rigorosamente a liberdade feminina.

 Podemos imaginar então como se deu esse impulso da liberdade feminina e aceitação social e artística das bailarinas da Dança do Ventre?
Bons estudos!